O dia dos homens (Estranho fruto)

 

Naquele dia

Não havia

Senão homens.

Varridos de delírios,

Apenas homens.

Não me lembro de outro dia assim.

Apenas homens.

Sentados em cadeiras amarelas

Ou inquietos em sapatos incessantes

Com raiva nas unhas,

Que mordiam as palmas das mãos

Ou dilacerados no peito,

Matando-se por dentro em ravinas,

Dependurando pescoços

Mas não ainda.

Mar a dentro

Mas não ainda.

Na linha férrea

Mas não ainda.

Quase.

Quase.

Por isso aguardavam

Na sala de espera da urgência

de psiquiatria.

Como figos maduros

cheirando a morte

Mas não ainda.

 

Abigail Ribeiro

23 de fevereiro de 2021

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