Instruções claras sobre o azeite
Escreve os seis nomes
numa pedra
e os outros seis nomes noutra.
Compra o leite
E o azeite
E o ouro puro.
As pedras são para pôr aos ombros.
Onde quer que entre leva-nos com ele.
Estamos lá todos
contidos em doze nomes
de filhos.
Gostava de ver o azeite a escorrer.
Nos cabelos, o óleo
O rosto, luzidio
A barba a pingar
As manchas da gordura da oliveira
a alastrarem na roupa.
Isto seria a união da cabeça ungida
E do corpo que faz,
Aarão.
Estaríamos lá todos
nos cabelos castanhos e brancos,
nas maçãs do rosto,
nas rugas, nos poros
e na rebeldia das barbas
não aparadas.
As oliveiras assistiriam
orgulhosas
como mães.
Das amendoeiras, só varas.
Haverão de florir.
A dúvida é o leite que corre
no branco da roupa.
A gordura do azeite não é para lavar.
Deixem-na exposta.
É o carimbo das oliveiras,
a seiva da paternidade,
uma espécie de soberania
do puro.
Parem quietos com a cadeira.
Ele virá.
Parece-me que já ouço as campainhas
do seu caminhar
por entre as romãs.
Abigail Ribeiro
4 de outubro de 2022